Gostava de recortar, e guardar no bolso, pedaços intactos do meu passado. Com a data escrita no verso dos mesmos. E a assinatura de quem os partilhou comigo. Plastificados, para estarem ao abrigo das chuvas, do roçar das calças e do próprio esboroar do tempo. Do tempo que, na avidez que a rotina alimenta, consome os dias, os meses, os anos, sem consideração para com as histórias que com eles vai consumindo também.
Gostava de ter sempre à mão quando fiz isto ou aquilo, assim como o desenho das paisagens que visitei, com as cores e os reflexos originais. As palavras ditas por quem já não tenho, ou por quem não as sabe reagrupar, gostava de as guardar todas juntinhas e inseparáveis. Para as tirar do bolso sem as desmanchar, e recordá-las tal e qual como nasceram dos lábios de alguém. Se possível, guardava e plastificava também o timbre da voz de quem as disse, e a entoação com que as proferiu, perpetuando assim a magia delas emanada quando evocadas.
Não podendo recortar o passado como folhas de jornal, ando de bolsos vazios e recordo histórias sem data precisa, cujo cenário vai perdendo a tinta, e vozes que se vão dispersando em conversas que deixam de o ser, sobrevivendo algumas frases e palavras originais.
E que importa afinal não reter o passado em papel químico, se trago comigo as histórias que quis guardar, separadas por épocas, à falta de datas precisas, pinceladas pelas cores que mais me agradaram (as restantes a ficarem um pouco desbotadas…), pontuadas por palavras soltas que reacendem cada contexto?!
No fundo, tudo se resume a épocas… e a pessoas que nos marcam para sempre.
Vega, aka C.V.O.