Sunday, January 30, 2022

A chuva

Dizem que a chuva é triste

Que alegres são dias de sol

Mas se alguma razão existe

Para a chuva não ser em vão

Digo-vos eu quem em riste

Tenho a resposta na mão:

Do sol não rezam os dias

Que ainda estão por nascer

Passam leves escorregadias

As horas do sol a bater

Ao invés, nas horas sombrias

Com a chuva a cair na janela

A memória vem ter comigo

Sem ter de chamar por ela.

E assim agradeço à chuva

Os dias tristes, sem cor

Pois se não fosse a tristeza

P´ra onde iria o amor

Infinito, intemporal

Como encheria a leveza

Dos desamores em geral

Onde guardaria a saudade

Que a vida faz renascer

Enfim não fosse este mar

De nostalgia que me invade

Como poderia escrever

Com alma e com vontade

E das palavras fazer

Guardiãs daquilo que sinto

E me prende à eternidade?

Vega. aka C.V.O.

Tuesday, January 25, 2022

De poder e cinzas

O gigante adamastor

Abre as asas com estridor

De fúria vermelho apodrece

Por dentro, e no entanto

A máscara permanece

(Pois qual não é o espanto?

Ninguém o quer enfrentar…

Só dos pequenos escarnece

Não vale o esforço de o derrubar,

E para mais aos grandes

Interessa que os deixe passar.)


Tem uma corte que o rodeia

A bajular-lhe o caminho

Ninguém o ama, todos o temem

Apenas intrigas semeia,

De amor nem um só bocadinho…

Ao trono agarra-se bem

Não quer perder o lugar

Pois se um dia acontecer

Já sabe o que advém:

Sem engodos do poder

Bem pode estrebuchar

Que ninguém lhe vai responder,

Já ninguém lhe vai ligar.


De que serve o rei na barriga

Com um vazio no coração

Tristes cenas de ódio, de briga

De cinzas não passarão.


Pudesse ele ter amado

Nem que fosse um pouco

Deixaria um legado

Que não fosse tão oco.

Vega, aka C.V.O.

Wednesday, January 12, 2022

A concha de segredos

Tenho uma concha fechada

Onde guardo segredos

Coisas que sonho acordada

Porque sonhando os medos

Varridos na palma de um sopro

Desfazem-se em menos de nada.

 

Segredos do que sonhei

Tanto que queria fazer…

O mundo fechou-me a concha

E nela os sonhos guardei.

Guardei também os pincéis

Que estão prontos a usar

Tenho as tintas, tenho os dedos

E nas mãos tenho os segredos

Que vou tentando pintar.

 

O mundo não é de sonhos

É de histórias, factos reais

Injustiças e coisas que tais

Mas andando de mansinho

Em cada pincelada que dou

Se fizer um bocadinho

O mundo já melhorou.

 

Vega, aka C.V.O.