Wednesday, April 23, 2008

Permanência

Para quando a demora
Em todos os portos
E não apenas a passagem
Breve, estugando a hora
Para aliviar bagagem?
Para quando o olhar atento
Sobre todos os povos
E todas as gentes, em cada paragem
Para quando o desbravamento
Para quando a ancoragem?
Para quando a urgência
De perder no caminho,
Sem urgência
De retomar a rota?
Para quando o desalinho
Dos mapas,
O abandono da frota,
O renegar das etapas,
A persistência devota?
Para quando o prazer
Não de seguir mas de ficar
Para quando permanecer?
Para quando despertar?

Vega, aka C.V.O.

Friday, April 18, 2008

Intangíveis...

Há dias, dias sem tréguas, em que as palavras me fogem desenfreadamente, como que desavindas por qualquer motivo que não consigo almejar. Grito por elas, em surdina, porque sei que não me podem ouvir e eu não quereria assustá-las. Tento apanhá-las desprevenidas, prendê-las na rede que vou lançando em bólus de energia e esperança, ao menor indício da sua passagem. Mas as minhas esperanças esmorecem ao cair da excitação que acompanha a vinda da rede sem elas. Deixo cair os braços, desfalecida, deixo a rede cair no chão. Já vi que de nada serve, com buracos grandes demais, ou palavras demasiado curtas as que andam no ar. Ou talvez a conspiração em que se meteram contra mim seja mais séria do que imaginava.

Cruzo os braços, numa atitude não de desistência, mas de impotência temporária, à espera de dias melhores, preenchidos de palavras.

E, no entanto, continuo a ouvi-las, cada vez mais. Ao longe, quase em sussurro, sopradas, maravilhosas, com toda a sensualidade inerente às coisas inalcançáveis. Cortam-me o coração de tão belas, tão límpidas, tão certeiras nas asserções que fazem quando se juntam todas, enfileiradas, parecendo conhecer-me de há longa data. E, no entanto, não lhes pego, não lhes consigo tocar, não lhes consigo fazer ver quão próximas somos, eu e elas, e como, por isso mesmo, me poderiam deixar pegar-lhes por uns instantes.

Resta-me assim continuar a ouvi-las, ainda que em surdina, no murmúrio do vento, nas bátegas de água a cair nestes dias de Abril, no calor dos raios de sol que rasgam, a intervalos, o manto nublado do céu.

E sonhar que um dia algumas delas se tornarão tangíveis, me deixarão pegar-lhes e delas fazer o que quiser.

Vega, aka C.V.O.