Sonhei contigo e voei longe, bem longe, quase vi passar as fronteiras da Terra, e alto, tão alto, que os aviões passavam por baixo de nós como pontinhos perdidos no meio das nuvens. Cheguei a um lugar do Mundo banhado pela luz do sol, de um sol que acordava todos os dias um pouco maior que no dia anterior, e que saltava da cama com aquele sorriso parvo e escancarado de felicidade incontida. Ficámos a saber que não chovia há um par de séculos, tinham dado por extintos os chapéus-de-chuva, mas, curiosamente, as flores continuavam a despontar e as árvores a dar frutos o ano inteiro.
Quando acordei, estava a chover, e a chuva devolveu-me depressa à realidade. Misturou-se com as minhas lágrimas e repetiu-me, vezes sem conta, para nunca mais me esquecer, que não posso voltar a viajar assim, tão longe, tão alto… e muito menos sem pára-quedas ou amortecedores no coração.