Vi-te. E não esperava. Serias tu? Já houvera outros, naquela noite, que me tinham parecido tu e não eram. Talvez fosse só, mais uma vez, a minha imaginação nos seus altos vôos. Mas não. Desta vez também tu olhaste, e na tua expressão adivinhei a surpresa, tão grande como a minha, e mais do que isso (porque a probabilidade de te encontrar era real, ainda que muito vaga, no meio de tanta gente, e não estando eu preparada para essa eventualidade), o espanto, isso!, o espanto, que te colocou em cima um ponto de interrogação do tamanho do mundo. Às tantas falaste-me... E eu dei por mim a dar-te dois beijinhos. (Eu que tinha cá para mim que, se alguma vez te voltasse a ver, te voltaria as costas para não te falar.) E depois tive de confirmar com uma amiga se, na verdade, te tinha dado mesmo dois beijos, e se tu é que me tinhas falado em primeiro lugar, e ela disse-me que sim, e que o encontro relâmpago tinha decorrido com muita naturalidade. E só quando te perdi de vista é que me apercebi que o chão me tinha desaparecido de debaixo dos pés, que o meu cérebro estava obnubilado, como se acabasse de ressuscitar, e que o meu coração, que parara durante aqueles instantes, recomeçava a dar as primeiras galopadas.
Tive pena, tenho pena, de não me conseguir lembrar de como tudo se passou naqueles segundos. Mas quando recuperei a frieza, já era tarde demais... Há muito que tinhas desaparecido na multidão.
Recordo a tua t-shirt laranja. E o teu ar de espanto. De indecisão. A tua expressão meiga. E, sobretudo, o que senti, e que também – mais que tudo o resto! – me espantou, pois julgava que me eras indiferente.
Vega, aka C.V.O.
2 comments:
Parabéns Carla!!! Adorei!! Escreves lindamente...qualquer um se deixa levar.
E este comentário não é só a este texto, mas a todos os outros que já escreveste.
Estou fã!!
Continua a escrever assim. Temos escritora.
bjinhos
Telma
Obrigada, Telminha linda! És um amor! :)
Bjocas
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