Tenho sonhos negros, escuros como
carvão, obstinados como uma flecha em estilhaçar os sonhos que tenho durante o
dia. Sonhos claros, luminosos e frágeis que tenho durante o dia, como uma bola
de cristal a reflectir a luz do sol. Acordo em estilhaços, destruída pelos
sonhos da noite, os sonhos de dia em fragmentos dispersos por entre os lençóis,
escoriações várias provocadas por esses pedacinhos cortantes e, pior que tudo,
o coração esmigalhado, sem integridade nem forças para continuar a bater…
Levanto-me devagarinho e, com
muito cuidado para evitar os estilhaços, vou à casa-de-banho tratar das
escoriações. Depois, regresso ao quarto, começo a reunir os pedacinhos
dispersos e, um a um, colo-os tentando manter a ordem inicial, como se de peças de
um “puzzle” se tratassem. Até que, por fim, volto a ter nas mãos a bola de
cristal intacta dos meus sonhos de dia, resplandecente como na véspera, embora cada
vez mais frágil, pois a cola que reúne os pedacinhos, já se sabe, por mais potente
que seja, não é mágica…
Mas o que importa é que tenho de
novo o meu sonho nas mãos, e gosto tanto dele que insisto em reconstruí-lo todas
as manhãs, com toda a dedicação do mundo, mesmo sabendo que o sonho é frágil,
cada vez mais frágil, e que, mesmo durante o dia, um mero pontapé o pode matar
de vez…
Vega, aka C.V.O.
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