Tuesday, January 25, 2022

De poder e cinzas

O gigante adamastor

Abre as asas com estridor

De fúria vermelho apodrece

Por dentro, e no entanto

A máscara permanece

(Pois qual não é o espanto?

Ninguém o quer enfrentar…

Só dos pequenos escarnece

Não vale o esforço de o derrubar,

E para mais aos grandes

Interessa que os deixe passar.)


Tem uma corte que o rodeia

A bajular-lhe o caminho

Ninguém o ama, todos o temem

Apenas intrigas semeia,

De amor nem um só bocadinho…

Ao trono agarra-se bem

Não quer perder o lugar

Pois se um dia acontecer

Já sabe o que advém:

Sem engodos do poder

Bem pode estrebuchar

Que ninguém lhe vai responder,

Já ninguém lhe vai ligar.


De que serve o rei na barriga

Com um vazio no coração

Tristes cenas de ódio, de briga

De cinzas não passarão.


Pudesse ele ter amado

Nem que fosse um pouco

Deixaria um legado

Que não fosse tão oco.

Vega, aka C.V.O.

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